“Em nome da Santa e indivisa Trindade, Padre, Filho e Espírito Santo. Eu, Rei D. Sancho, filho de D. Afonso Henriques, mui nobre rei de Portugal, e da rainha D. Mafalda, juntamente com os meus filhos e filhas, isto é, príncipes D. Afonso e D. Pedro e D. Fernando, e as princesas D. Teresa e D. Sancha, juntamente com D. Pedro, Bispo de Coimbra, e com o consenso de seus cónegos:
1. Queremos restaurar e povoar Belmonte.
(…)”

FORAL DE BELMONTE 1199

A Feira Medieval de Belmonte, atualmente Belmonte Medieval desde 2015, é o evento mais participado e visitado do Concelho de Belmonte.

A Belmonte Medieval realiza-se uma vez por ano no segundo fim de semana de agosto e tem uma duração que varia entre 3 e 5 dias, dependendo do feriado de 15 de agosto. A sua organização é da responsabilidade do Município de Belmonte em conjunto com a Empresa Municipal de Belmonte.

O evento tem a capacidade de transfigurar praticamente toda a vila de Belmonte.
Durante estes dias, para além do recinto medieval na zona central da vila, Belmonte recebe um volume de visitantes significativo, o que resulta em várias alterações no ordenamento normal em termos de serviços, segurança, trânsito e até do modo de vida dos locais.

Talvez um dos aspetos mais interessantes acerca deste evento seja a importância e o carinho que desperta em todos os belmontenses, sem exceção. Para os habitantes, além da oportunidade económica, o evento desperta um sentimento de pertença muito forte, constituindo-se já como um dos momentos mais importantes na partilha das tradições e modo de vida belmontense. 80% da zona comercial da Belmonte Medieval é constituída por pontos de venda explorados por habitantes de Belmonte, do concelho ou das terras circundantes.

Ponto de encontro obrigatório para os que foram estudar ou trabalhar para outras regiões, a feira medieval é também um pretexto de regresso.

BELMONTE

Coroada pelo castelo medieval, a Vila de Belmonte sobressai pela beleza das suas paisagens e monumentos, pela riqueza da sua história e recursos, pela sua fabulosa posição estratégica, que a fez dominar, desde tempos imemoriais, territórios e vias de comunicação.

Belmonte é uma vila portuguesa do distrito de Castelo Branco, na província da Beira Baixa, região do Centro e sub-região das Beiras e Serra da Estrela, sede do Município de Belmonte com 118,76 km² de área e 6 204 habitantes (2021), subdividido em 4 freguesias. O município é limitado a norte pelo município da Guarda, a leste pelo Sabugal, a sudoeste pelo Fundão e a oeste pela Covilhã.

A localidade integra a Rede das Aldeias Históricas de Portugal, a Rede de Judiarias de Portugal, o Estrela Geopark, a Associação de Municípios da Cova da Beira e a Comunidade Intermunicipal das Beiras e Serra da Estrela.

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Castelo de Belmonte no topo da antiga judiaria

Os vestígios mais antigos remontam ao Neolítico Final / Calcolítico, onde se destaca a anta de Caria. Já o povoado da Chandeirinha e S. Geraldo, são locais que assinalam a presença humana durante a Idade do Bronze / Idade do Ferro.

É, no entanto, da época romana que se encontram os vestígios mais significativos, dos quais se destacam a Villa da Quinta da Fórnea e Centum Cellas, locais ligados à exploração agrícola, mineira, entre outras atividades. De facto, pela quantidade de materiais importados descobertos (ânforas, lucernas, terra sigillata, etc) é notório o dinamismo económico que a região conheceu, que se refletiu no comércio. Também não será alheio o facto de que em Belmonte passava a via romana que ligava Mérida a Braga

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Villa Romana da Quinta da Fórnea

Centum Cellas Livro Csilva

Torre de Centum Cellas

D. Sancho I concede-lhe foral em 1199, com o intuito de promover o seu desenvolvimento e povoamento. Mais tarde, D. Afonso III concede autorização ao Bispo D. Egas Fafes para construir uma Torre em Belmonte.

D. Afonso V doou o castelo a Fernão Cabral I, transformando-o na residência da família Cabral. Da família destaca-se a figura de Pedro Álvares Cabral, Descobridor do Brasil e que deu Novos Mundos ao Mundo.

Mas Belmonte também soube acolher gentes de outros credos e culturas. Aqui estabeleceu-se uma Comunidade Judaica que sobreviveu séculos e séculos, perdurando ainda na atualidade.

A História, o património e as tradições são divulgadas nos 6 espaços museológicos existentes em Belmonte: Núcleo Museológico do Castelo de Belmonte; Igreja de Santiago/ Panteão dos Cabrais (Centro Interpretativo dos Caminhos da Fé); Museu Judaico; Ecomuseu do Zêzere; Museu do Azeite; e Museu dos Descobrimentos.

No Concelho, destaca-se também a Torre de Centum Cellas, a Villa romana da Quinta da Fórnea, a Casa da Torre, a Casa Etnográfica, a Casa da Roda e as Pinturas Murais da Capela do Divino Espírito Santo.

HISTÓRIA

A génese da Feira Medieval de Belmonte dá-se três anos antes da sua primeira edição, num evento que data de 2001 e que consistiu numa “demonstração teatral medieval” pelas ruas da zona antiga de Belmonte com a participação dos locais e com a participação teatral de elementos da companhia de teatro e artes circenses do “Chapitô”.

Desfile Medieval Em Belmonte (2001)

Desfile Medieval embrionário da Feira Medieval de Belmonte, 2001

Já antes, nos anos 90 tinha havido algumas manifestações culturais que faziam alusão a esta época, com alguns jovens da terra a vestirem roupas apropriadas ao tema.

É já em 2004 que, finalmente, Belmonte avança para a I Feira Medieval de Belmonte e explora, ininterruptamente, ao longo de 16 anos (16 edições), as histórias e estórias que envolvem o valioso património de Belmonte.

Em 2020, por culpa da pandemia covid-19 e das restrições sanitárias, a agora chamada Belmonte Medieval (que sofreu alteração do nome em 2015) é cancelada e, pela primeira vez desde a sua génese, não se realiza nesse ano, o que viria a acontecer também em 2021 pelos mesmos motivos, retomando apenas em 2022.

Não fosse esse hiato, a Belmonte Medieval festejaria em 2023 a sua 20ª edição.

A Belmonte Medieval faz parte do reduzido lote de feiras medievais com mais de 15 edições, muito antes da “moda” deste tipo de eventos se ter espalhado por todo o país e gosta de se apresentar não apenas como um evento anual, mas já como uma tradição.

É a mais antiga feira medieval da região interior centro de Portugal e sempre se orgulhou de representar a região junto de outras feiras medievais de renome: Santa Maria da Feira (litoral-norte), Coimbra e Óbidos (litoral- centro), Sintra (zona de Lisboa), Castro Marim e Silves (Algarve).

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Vista aérea sobre a Belmonte Medieval, 2022

RECINTO

Nos dias da Belmonte Medieval, a zona histórica de Belmonte transforma-se por completo para dar lugar a um evento que é essencialmente de rua, com fachadas decoradas, lojas de rua (barracas) com restrição de uso de materiais à época, criação de picadeiro em areia, quatro palcos (Castelo, Praça Manuelina, Largo de São Pedro e Pelourinho) e uma estrutura elétrica e de fornecimento de água totalmente dedicada ao evento.

Mapa Belmonte Medieval

Ilustração do recinto da Belmonte Medieval

Ocupando uma área de aproximadamente 30000m2 (3ha), num perímetro de 1 km, a feira medieval conta habitualmente com 5 restaurantes medievais (mais quatro estabelecimentos fixos que ficam dentro do recinto), 10 balcões com porco no espeto, pão quente, crepes e similares e outros tantos balcões apenas com bebidas.

Para além do conjunto de serviços de alimentação, o recinto conta com vários artesãos, alguns deles a trabalhar ao vivo, e com vários balcões com os mais variados ofícios da gastronomia, da arte e do artesanato, contabilizando, em média, 100 artesãos por edição.

ANIMAÇÃO

A animação da Belmonte Medieval já teve, ao longo dos anos, várias produtoras responsáveis pela animação e componente teatral sendo que o princípio conceptual da mesma tem seguido a mesma linha durante o decorrer dos anos.

A grande alteração do conceito deu-se em 2015 (aquando da mudança de namimg) e a partir dessa altura, todos os anos é explorado um tema selecionado a partir das lendas e histórias de Belmonte, como foram exemplo a “História da Menina da Prensa” (2015), o “Sonho de Pedro Álvares Cabral” (2016), “Maria Gil Cabral” (2017), “Os Alcaides de Belmonte – 15 anos” (2018), “A Lenda do Cativo de Belmonte” (2019) e “Festas e Romarias depois da Peste” (2022).

Com animação de rua constante e as apresentações nos vários palcos do recinto, o ponto alto da Belmonte Medieval em termos de espetáculos e animação é, sem dúvida, o “Assalto ao Castelo” – performance que já se realiza praticamente desde o início do evento e que neste momento, todos os anos se vai alterando dependendo do tema selecionado.

Grupos circenses, grupos de música medieval, tratadores de animais, dançarinas, comediantes e outros artistas juntam-se aos muitos participantes voluntários da vila de Belmonte e arredores.

Nos últimos anos, tem sido introduzido um espetáculo comunitário que tem tido ótimos resultados ao nível da participação, e que depois de quase um mês de preparação é apresentado numa das noites do programa para milhares de pessoas na Praça Manuelina (praça em frente ao Castelo de Belmonte).

No total, a Belmonte Medieval conta anualmente com um número entre 50 a 70 artistas de animação que fazem aproximadamente 100 apresentações ao longo dos 3/5 dias.

VISITANTES

Devido à data do evento, um grande número de visitantes da Belmonte Medieval consiste em emigrantes que regressam ao seu país para uma temporada de férias e que têm o hábito de visitar várias festividades e acontecimentos populares.

A Belmonte Medieval conta também com a visita de vários entusiastas do formato e que normalmente participam muito ativamente na animação e experiências que a feira tem para oferecer.

Com o crescimento do turismo em Belmonte, tem vindo a ser também visível um número crescente de pessoas que aproveitam a altura para alugar um alojamento local no concelho para poder desfrutar da totalidade da feira, sendo que a oferta de alojamento no concelho de Belmonte nas datas do evento está totalmente preenchida com meses de antecedência.

Feira Medieval

A multidão junta-se para assistir a mais um espetáculo na Praça Manuelina

Em termos internacionais, o maior grupo de visitantes que normalmente o evento recebe são brasileiros e espanhóis. Enquanto a proximidade à fronteira facilita a deslocação de visitantes de nacionalidade espanhola, o fenómeno dos visitantes brasileiros deve-se muito à crescente comunidade brasileira a viver em Portugal e que gosta do formato, mas também com o esforço que o Município de Belmonte tem desempenhado em contar a história de Pedro Álvares Cabral, filho da terra e descobridor do caminho marítimo para o Brasil, e o estreitamento de relações com várias instituições brasileiras.

A Belmonte Medieval é também muito participada por pessoas da região centro de Portugal (próximas de Belmonte), sendo que a quantidade de eventos dentro desta temática tem crescido em Portugal de forma generalizada, o que acaba por fazer com que as pessoas não se desloquem grandes distâncias para nos visitar.

A feira medieval de Belmonte contabiliza anualmente cerca de 100 000 visitantes, com algumas flutuações pontuais devido sobretudo a condições climatéricas ou acidentes naturais, como foi exemplo o ano de 2022 com os grandes incêndios da Serra da Estrela e Cova da Beira.

COMUNICAÇÃO

A Belmonte Medieval comunica desde 2015 de forma original e peculiar a sua feira.

É realizado um casting circunscrito a todas as pessoas que vivam, trabalhem ou estudem no concelho de Belmonte de forma a escolher as caras que vão ser apresentadas no cartaz desse ano e que vão encarnar as personagens que dão vida às histórias de cada edição.
Para além disso, os selecionados participam também, com destaque, no cortejo de abertura da Belmonte Medieval e no teatro comunitário.

Nesta iniciativa, já com 7 edições, participaram mais de 250 pessoas de todas as idades e géneros e existe já uma imagem de marca associada ao material gráfico produzido que pretende assemelhar-se a cartazes cinematográficos. No seio de Belmonte, todos os anos existe muita curiosidade para saber quem são os protagonistas, o que resulta num envolvimento enorme da comunidade e num sentimento de pertença e proximidade.

O evento conta com presença nas redes sociais através de plataformas dedicadas de Facebook e Instagram, sendo que ao nível de website é usada a página oficial do Município de Belmonte.

Durante todo o evento, o Município de Belmonte disponibiliza uma equipa para recolha de imagens (fotografia, vídeo e drone) e publica diariamente todas as fotografias e uma montagem de vídeo retrospetiva desse dia durante a noite, de forma a oferecer a possibilidade a todos de seguir o evento, mas também a criar interesse em novos públicos e que decidam deslocar-se no dia seguinte.

Na última edição, a organização começou a apostar no merchandising como forma não só de receita adicional, mas também proporcionar a possibilidade de os visitantes levarem consigo uma parte da feira como lembrança. É um projeto apenas embrionário e ainda sem grandes resultados práticos, mas definitivamente uma aposta para continuar.

A Lenda Renasce