“Três noites seguidas sonhou um pastor que lhe diziam: “Vai a Belém que lá está teu bem.” E muita gente acreditava ser sinal de verdade um aviso dado três vezes seguidas por um sonho. Pôs-se pois a caminhar o pastor, à procura desse Belém prodigioso.
Tempos e tempos caminhou. Até que um dia, numa terra distante, encontrou-se com um outro pastor solitário ao qual contou a sua história.
“Tolice!” respondeu o outro. “Também eu tenho sonhado, dia após dia, com uma cabrinha branca que teima sempre em deitar-se em cima de uma pedra que há por aí. E dizem-me vozes que quem levantar aquela pedra vai achar um tesouro enterrado por baixo dela.. Mas quem vai acreditar nisso?”
Acontece que o primeiro pastor conhecia bem e longe dali, o lugar da pedra descrito pelo incrédulo companheiro. E partiu, em silêncio, à sua procura. Caminhou outra vez longo tempo, localizou a pedra, escavou por baixo dela e desenterrou uma cabra e um cabrito esculpidos em ouro maciço.
Decidiu, então, ir ao palácio, a fim de dar conta ao rei do sucedido. E, ao ver o soberano, antes de qualquer explicação pôs-lhe a questão:
“Trago um presente para Vossa Alteza. Dizei-me, pois: quereis a cabra ou o cabrito?”
Imaginando o bom e tenro acepipe que colocaria em sua mesa, respondeu-lhe o rei: “Prefiro o cabrito.”
Só então soube que se tratava de uma escultura em ouro. Mas, longe de pretender castigá-lo, louvou o rei a esperteza do pastor. E este, com a sincera humildade que sempre tivera, prostrou-se outra vez diante do soberano e ofereceu:
“Fique Vossa Alteza com os dois, a cabra e o cabrito. E que lhe sejam de bom proveito.”
Reconhecido, o rei mandou dar ao pastor tudo quanto pudesse ser avistado do alto da serra de Belmonte. E foi assim que ali nasceu a vila e nela se instalou o senhorio dos Cabrais, em cujo brasão de família estão presentes, até hoje, a cabra e o cabrito.”